UNESP. Uma piada de mau gosto!
Todos devem se lembrar da inauguração do campus da UNESP em São Vicente. Muita festa, políticos, parcerias criadas e grande comemoração.
Bem, o fato é que o tempo passou, foi realizado o vestibular e para surpresa dos alunos aprovados, entidades representativas dos estudantes como CES – Centro dos Estudantes de Santos e UEE/SP – União Estadual dos Estudantes, autoridades e sociedade civil em geral, a faculdade não existe. Fato confessado pela frase dita pelo próprio Reitor da UNESP, Prof. Trindade, em conversa na sala da aula do curso, em São Vicente, que, para não ser injusto com o Reitor, transcrevo-a: “Isso aqui não é uma faculdade”.
Digo que não existe curso, ou faculdade, o que concorda o Senhor Reitor, porque quando não se tem corpo docente, na medida em que ainda não foram efetivamente contratados pela universidade – mas, segundo palavras do ilustre reitor “logo vamos contratar os professores. Eu não tenho nem um nem dois curriculuns na minha mão de professores interessados em dar aulas aqui, já tenho três ou quatro” – não podemos dizer que um curso existe.
Também digo isso em razão da completa ausência de material de laboratório. Não que faltem alguns produtos, é que falta quase tudo, até luvas e óculos de proteção – essencial para a segurança dos alunos. Ah! Me desculpem, justiça seja feita, tem o jaleco que são obrigados a usar, se não … não entram no laboratório.
Livros então, nem pela internet. Os computadores que estão instalados no campus não podem ser usados pelos alunos, só pelo curso gestão – da secretaria de educação, cuja UNESP tem um convênio até 04 de dezembro deste ano para que eles usem o campus de São Vicente, enquanto os alunos não tinham sequer uma sala de aula.
Mas o Reitor afirmou, no dia 05 de junho, vejam a data, depois de sessenta dias do início das aulas, que logo vai comprar microscópios e outros materiais para o laboratório. Quanto aos livros, nem falou – talvez ache desnecessário.
Intrigante é que, apesar de todos os problemas relatados pelos alunos, que às vezes não tem sequer cadeiras para sentar, não preocupam tanto o reitor. Segundo ele, os problemas são fáceis de resolver, porque já viu cursos em situação pior (sic). Ficam as indagações. O que poderia ser pior e em que lugar foi isso? Na UNESP mesmo? E se é tão fácil de resolver porque ainda não o fez o sábio reitor? Como pode uma instituição de ensino realizar um concurso vestibular e não dar a mínima estrutura para ele? Com a palavra, o Profº Trindade.
Fato comovente e revoltante, foi o relato de uma aluna, que durante a conversa ocorrida no dia 05 de junho entre os alunos, o reitor, assessores e o coordenador do campus – em que fui convidado pelos alunos para estar presente, disse copiosamente chorando, que enfrentava grandes dificuldades financeiras para continuar estudando, já que reside em outra cidade e o coordenador, Prof. Carlos, quando indagado sobre a “bolsa pai” – ajuda prestada aos alunos carentes, havia dito a aluna que ela não precisa porque tinha condições financeiras boas e suficientes para suportar as despesas necessárias para continuar seus estudos ali.
Isso sem falar dos risos do Reitor e dos assessores quanto da preocupação demonstrada pelos alunos com a qualidade de ensino do curso e o fato de estarem sendo cobaias de um curso modular, cujo modelo, além de não estar pronto, está sempre em adaptação. Um dos assessores chegou a dizer aos alunos: “Isso é uma piada”. Piada é o curso que dizem ter implantado em São Vicente, e de mau gosto.
Diante de tantos fatos que revoltam o mais pacato cidadão, fico confuso. Não sei bem mais o que mais revoltou até agora. Se foi o que vi naquela reunião, que fora o descaso da reitoria para com os alunos e a sociedade – visto que o reitor nem sabia onde era a sala de aula e passou por ela com seus assessores quando se dirigia para a reunião e ria das indagações dos alunos; o tratamento arrogante e desumano dispensado aos alunos tanto pelo reitor quando do diálogo com os alunos, quanto pelo coordenador, em vista do fato acima narrado ou se foi descobrir que a UNESP/São Vicente é um engodo, e daqueles muito bem contados pelo governo do estado de São Paulo e por um certo deputado mesquinho, que centraliza informações sobre os investimento do governo do estado na educação na Baixada Santista, algumas delas, como a UNESP, inverídicas.
Enfim, a reunião com o Magnífico Trindade serviu para comprovar mais uma vez que a esmagadora maioria dos reitores se acham os senhores feudais, para eles, os alunos são a plebe e a sociedade não precisa de qualidade no ensino, talvez, nem de ensino.